Policiais da Rota são presos suspeitos de execução

Testemunha telefonou para o 190 e relatou, de dentro de casa, a ação em tempo real
Da Redação

Três policiais da Rota (Ronda Ostensiva Tobias de Aguiar) foram presos acusados de executarem um homem nas proximidades da Rodovia Ayrton Senna. Na noite da última segunda-feira, 28, a Rota descobriu uma suposta reunião de criminosos que integram o PCC (Primeiro Comando da Capital), organização criminosa que age a partir dos presídios. De acordo com a denúncia anônima, supostamente recebida através do telefone do quartel, integrantes do PCC se reuniriam em um estacionamento na Penha para planejar o resgate de um traficante preso.
Segundo os policiais que participaram da operação, quando as 6 viaturas da Rota chegaram ao local foram recebidas com tiros. Cinco suspeitos conseguiram fugir de carro, cinco morreram baleados e duas mulheres e um homem foram presos. Outro homem foi detido na ação e colocado na viatura dos três policiais presos, e, segundo relato de uma testemunha, foi agredido e executado. Na ação da Rota nenhum policial ou viatura foram atingidos por tiros. Foram apreendidos na ocorrência três carros, quatro coletes à prova de balas, sete tijolos de maconha seis de cocaína, R$ 3 mil em dinheiro e oito armas.
De acordo com o corregedor da PM, coronel Rui Conegundes Sousa, a testemunha telefonou para o 190, número do Copom (Centro de Operações da Polícia Militar), e relatou, de dentro de casa, a ação dos policiais da Rota em tempo real. De acordo com ela, ocorreram algumas agressões e depois teria ouvido disparos de armas de fogo. Ainda segundo a testemunha, os policiais teriam levado o corpo de volta para o local onde ocorreu a troca de tiros, e, desta forma, contabilizado a morte como a sexta no local do tiroteio. Além da testemunha, a corregedoria tem como prova as imagens da viatura trafegando e parada no local relatado da execução. Segundo a promotora Luciana Frugiuele, do Grupo de Controle Externo de Atividade Policial do Ministério Público, que acompanhou o depoimento dos policiais, todos negaram o crime. “Eles negaram que tenham executado o rapaz. Eles admitiram que passaram pela rodovia, e que pararam o carro porque um dos policiais estava com câimbra.”
O diretor do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), Jorge Carlos Carrasco, afirmou que toda a ação da Rota na ocorrência “foi legítima”. “Houve perseguição e troca de tiros em diversos lugares e não apenas no estacionamento do bar. E houve uma reação com a chegada da polícia”, afirmou. Porém, disse ter indícios que um dos suspeitos teria sido executado. Já o comandante da Rota, coronel Salvador Madia, falou em “desvio de conduta” por parte de alguns dos seus comandados. “Há indícios que estão sendo investigados pelo DHPP. O inquérito está sob sigilo”, afirmou.
2011 teve o maior número de mortes por policiais da Rota em 5 anos
Um levantamento da Ouvidoria das polícias aponta que em 2011 a Rota matou 91 suspeitos durante ocorrências. Desde 2006, quando ocorreram os ataques do crime organizado às forças de segurança, a unidade da Polícia Militar não matava tanto. Naquele ano, policiais da Rota envolveram-se em 97 mortes de suspeitos.
A maioria das mortes por policiais da Rota em 2011 foi registrada como resistência seguida de morte (81), o chamado “ato de resistência”. Apenas 9 das 91 mortes no ano foram classificadas como homicídios dolosos.
O crescente número de mortes coincide com a nomeação do tenente-coronel Adriano Lopes Telhada para o comando da Rota. Telhada esteve à frente da unidade entre maio de 2009 a novembro de 2011, quando as mortes pularam de 61 para 81. Telhada, hoje aposentado, era conhecido por ser linha dura e por declarações fortes, como quando disse que preferia “antes a mãe do vagabundo chorando do que a minha”. Quem comanda a Rota hoje é o tenente-coronel Salvador Modesto Madia, réu no episódio conhecido como massacre do Carandiru, quando 111 presos foram mortos na invasão a casa de detenção.